Usando o conceito de centro de massa na produção agropecuária

Em análises econômicas se utiliza muito a determinação do centro de massa da economia mundial, ou seja, onde está localizado o ponto médio, ponderado das economias de cada país. As análises são realizadas observando o comportamento do deslocamento do centro de massa ao longo dos anos, determinando a dinâmica espaço-temporal da economia a mundial.

O centro de massa econômico mundial é um indicador que resume a evolução da distribuição espacial das atividades econômicas no globo e é um dos objetivos declarados do Relatório de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial. O centro de massa pode ser utilizado como um indicador da desigualdade espacial das atividades econômicas no mundo, pois analisa a dinâmica espaço-temporal. A definição de centro de massa difere de centro de gravidade por não sofrer influência de um campo gravitacional. A definição de um centro de massa é diretamente baseada no conceito de centro de massa da física, na qual um ponto no espaço simboliza o sistema como um todo quando tratado como partícula. O desvio da definição na física, sobre centro de massa, é que a “massa” é trocada, em análises da produção agropecuária, pela “quantidade anual produzida”.

Usar o conceito de centro de massa da produção agropecuária no território nacional e considerando como unidade de referência espacial os limites municipais tem quatro implicações. A primeira é que toda a produção é agregada em um único ponto do município. A segunda é que, baseando-se em uma perspectiva tridimensional, podemos abstrair todas as distorções que surgem quando a superfície da Terra é representada em um sistema de projeção. A terceira implicação é que a distância entre a localização de um centro de massa de um município e o centro de massa da produção de um produto para todo o país se torna uma alternativa visual e mensurável para analisar a participação do município na produção total do produto. A quarta implicação é a possibilidade de avaliar com que velocidade o centro de massa se desloca (em quilômetros por ano).

O relatório “Urban World: Cities And The Rise Of The Consuming Class”, publicado pela McKinsey & Company em 2012, apresenta o caminho percorrido pela economia mundial do ano 1 a 2010 e uma projeção até 2025. A figura mostra que a velocidade do deslocamento do centro de massa da economia mundial foi maior entre 2000 e 2010 do que nos anos anteriores e que a partir de 1960 o sentido mudou em relação as décadas anteriores.

A utilização da determinação do deslocamento do centro de massa de produtos agropecuários, considerando todos os municípios do país, permite identificar a dinâmica espaço-temporal das atividades agropecuárias, em nível nacional, através de vetores que mostram a velocidade em que a produção agropecuária se desloca e o sentido.

Os vetores (determinados pelos pontos dos centros de massa) permitem realizar comparações dos resultados entre períodos para um produto agropecuário e/ou entre diferentes produtos agropecuários para um mesmo período. Esse tipo de resultado e, consequentemente, de análise, não é possível em estudos que abordam a movimentação de um produto agropecuário de maneira visual e ou que não utilizam análises espaciais.

A movimentação dos centros de massa é utilizada para comparar o deslocamento espaço-temporal da agropecuária, com dados norteadores do crescimento (como modais de transporte e áreas prováveis para a evolução) podendo, com isso, mostrar quais são as áreas mais apropriadas para a expansão do agronegócio e indicar onde podem ser direcionadas ações de combate a problemas fitossanitários.

Na figura do Brasil é mostrado onde estão e como fica o vetor de deslocamento da produção da pecuária de corte. Percebe-se que houve maior deslocamento no período 2006 a 2012, com velocidade de 32 quilômetros por ano.

A determinação do centro de massa pode ser utilizada como indicador da desigualdade espacial das atividades agropecuárias, pois analisa a dinâmica espaço-temporal, contribuindo assim para a sustentabilidade do agronegócio em bases territoriais.

 

Wilson Anderson Holler,

Engenheiro Cartógrafo, Esp. (UFPR), Supervisor de equipe na Embrapa Gestão Territorial

 

 

 

Rafael Mingoti,

Engenheiro Agrônomo, Dr. (USP), Analista GIS da Embrapa Gestão Territorial.