Liderada por pesquisadores do Cemaden, o trabalho científico – divulgado na última quarta-feira (3/3 na publicação internacional da Frontiers in Climate – faz projeções com diferentes níveis de aquecimento, indicando aumento na vulnerabilidade e mudança nos impactos potenciais de deslizamentos de terra e inundações. Mostram três regiões brasileiras, de áreas densamente povoadas, onde os desastres geo-hidro-meteorológicos podem ser intensificados, destacando: regiões Sul e Sudeste do Brasil (inclusive as regiões metropolitanas) e parte leste do Nordeste.

Os cenários de mudanças extremas para a ocorrência de chuvas intensas e o aumento do risco de inundações e deslizamentos foram estimados com a projeção do aumento de aquecimento global (GWLs) de 1,5 º, 2º e 4º C. A projeção mostra que o aumento em diferentes níveis de aquecimento provoca uma mudança notável nas fortes precipitações, resultando no aumento do risco de deslizamentos e inundações repentinas, no contexto das mudanças climáticas.

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No Brasil, as principais regiões metropolitanas e centros turísticos – além das regiões que detêm a principal infraestrutura brasileira – estão localizadas nas áreas mais impactadas com o aquecimento global.

As regiões Sul e Sudeste do Brasil – incluindo regiões metropolitanas de alto desenvolvimento econômico e densamente povoadas – podem ser aquelas onde os desastres podem se intensificar tanto em frequência, quanto em magnitude, devido ao aumento significativo de eventos extremos de chuva sinalizado por diferentes projeções. A parte leste do Nordeste também é sinalizada como uma das regiões que podem ser mais afetadas, devido à sua alta vulnerabilidade e exposição atual, embora as projeções do clima futuro não permitam resultados conclusivos quanto à intensificação de eventos extremos de chuvas em cenários abaixo de 4 °C.

A pesquisa, divulgada hoje (3) na publicação da Revista Frontiers in Climate, foi liderada pelos pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) – em parceria com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe-CCST) e de pesquisadores britânicos do Met Office Hadley Center e da University of Exeter (Reino Unido).

“No futuro, com aquecimento acima de 1,5 ° C, esses impactos podem ser mais fortes.”, destaca o coordenador da pesquisa, climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden. “Este padrão parece persistir e se agravar no futuro para aquecimento acima de 2,0 ° C.”, alerta Marengo.

Co-autor do artigo, o pesquisador do Cemaden, Pedro Camarinha, ressalta que os resultados desse estudo não consideram futuras mudanças do uso e cobertura do solo (como expansão de áreas urbanas, aumento do desmatamento, entre outras) nem da densidade populacional e fatores socioeconômicos. “O aumento dos impactos apresentados no estudo se refere apenas às mudanças climáticas,” explica o pesquisador e enfatiza: “Isso reforça a necessidade de um melhor gerenciamento e ações de redução de risco aos desastres para que os impactos não sejam ainda maiores.”

O estudo faz recomendações para lidar com impactos de deslizamentos, inundações e gestão de riscos, sugerindo uma abordagem mais proativa para melhorar a capacidade adaptativa das regiões que serão mais afetadas. “Para evitar e reduzir os impactos socioambientais e econômicos, torna-se obrigatório melhorar o conhecimento de risco, as capacidades de monitoramento e alerta, além de aprimorar a comunicação e a preparação para os desastres. ” , afirma o coordenador da pesquisa.

O artigo científico na íntegra – intitulado “Extreme rainfall and risk of hydro-geo-meteorogical disasters in global warming of 1.5, 2.0 and 4.0ºC: an analysis for Brazil” (“Precipitação extrema e risco de desastres hidro-geo-meteorológicos em cenários de aquecimento global de 1,5, 2,0 e 4,0 ° C: uma análise para o Brasil”) – está disponibilizado neste link.

Com informações da Ascom/Cemaden