O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no Maranhão, no Nordeste do Brasil, está prestes a se alinhar à realidade atual do mercado espacial com a permissão de operação para empresas privadas, inclusive internacionais. Quem vai iniciar essa nova fase é Innospace, fabricante de pequenos veículos lançadores de satélites da Coreia do Sul.

Na programação do CLA, a Innospace não liderava a corrida. Entretanto, a empresa norte-americana Hyperion, que foi selecionada em 2021 para operar no espaçoporto brasileiro, se retirou da negociação e abriu espaço para a congênere asiática. Dessa forma, a Innospace está confirmada como a primeira companhia privada a operar em Alcântara.

A estreia está programada para ocorrer em dezembro de 2022 com o lançamento do HANBIT-TLV, um foguete híbrido de 15 toneladas e de impulso de estágio único. Ele tem altura de 16,3 metros, um metro de diâmetro e peso de 9,2 toneladas.

Esse veículo lançador utiliza uma tecnologia de motores de foguetes híbridos que combina propulsores à base de oxigênio líquido e parafina, o que simplifica sua estrutura e permite o controle de potência, além de ser não tóxico e não explosivo. O HANBIT-TLV é alimentado por um sistema patenteado de bomba elétrica.

O veículo passou por testes no fim de maio deste ano na unidade da Innospace em Cheongju, onde ele foi instalado em um sistema de lançamento portátil. Na ocasião, foram verificadas a integridade da interface e a compatibilidade dos sistemas.

O primeiro voo de teste suborbital será realizado em Alcântara, quando será validado o motor do primeiro estágio do HANBIT-Nano, o menor veículo lançador da empresa sul-coreana, capaz de carregar uma carga útil de 50 kg. O planejamento é que o foguete atinja uma altitude de 100 km e caia em alto mar.

Quem é a Innospace

A Innospace foi fundada em 2017 na Coreia do Sul pelo engenheiro aeroespacial Soo Jong Kim na cidade de Sejong, localizada a menos de três horas da capital Seul. É também lá onde fica o Centro Aeroespacial de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa. A outra instalação da companhia está em Cheongjiu, onde ocorrem os testes com os veículos e motores.

A startup nasceu na esteira do crescimento do mercado de pequenos satélites e com o objetivo de baratear o acesso ao espaço, com serviços de lançamento confiáveis de baixa latência.

“O objetivo final da Innospace é o nosso lançador de pequenos satélites carreguem os satélites para que eles possam acessar a órbita heliossíncrona a um custo baixo. Começando com o teste de lançamento neste ano, nós continuaremos a desenvolver tecnologias para entrar no mercado global de serviço de lançamento de satélites o mais breve possível, mantendo uma cooperação estratégica com a indústria espacial e com capacidade de comercialização global.”

Soo Jong Kim, CEO da Innospace, em comunicado à imprensa.

Antes de fundar a Innospace, Soo Jong Kim trabalhou como pesquisador em algumas empresas sul-coreanas ligadas ao mercado aeroespacial, além de ter passado pela Technion-IIT Rocket Propulsion Center, de Israel, concentrado especialmente em sistemas de propulsão para foguetes.

Em 2020, três anos após a fundação, a Innospace completou uma rodada A de investimento, o que permitiu à empresa avançar com testes dos sistemas de propulsão e abrir uma subsidiária no Brasil, já vislumbrando as atividades de lançamento a partir de Alcântara. No ano seguinte, passou por uma rodada B para seguir com a fabricação dos veículos lançadores.

Alcântara e parceria com DCTA

Um episódio fundamental na história da Innospace foi a licença para operar no Centro de Lançamento de Alcântara, obtida em 2021. Foi a partir dessa licença que a empresa pôde avançar etapas e se aproximar dos testes em voo.

Apesar de existirem alguns centros de lançamento comerciais no mundo, a escolha por Alcântara se baseou em três motivos principais. O primeiro foi a proximidade do Equador, o que garante grande economia de combustível nos lançamentos. O segundo ponto foi a possibilidade de lançar veículos nas órbitas equatoriais, polares e inclinadas. E, por fim, a área apresenta níveis confiáveis de segurança patrimonial e de operação.

Com atuação no Brasil desde 2020, a Innospace se aproximou da Força Aérea Brasileira (FAB), o que culminou não apenas na licença de operação em Alcântara, mas também em um acordo com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) para lançar o SISNAV, um projeto de sistema de navegação inercial em desenvolvimento pelo próprio DCTA e com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Pelo acordo assinado em maio de 2022, a Innospace levará a carga útil do SISNAV bordo do HANBIT-TLV. Na ocasião, será verificado se o SISNAV funciona corretamente em ambientes específicos, como de vibração, choque e alta temperatura, desde a decolagem até o voo transatmosférico.

“Esse acordo é significativo, porque a Innospace e o DCTA estão comprometidos com o desenvolvimento técnico e operacional mútuo, e uma parceria contínua. Esperamos que a Innospace entre no mercado de serviços de lançamento de pequenos satélites, com um primeiro teste de lançamento bem-sucedido do HANBIT-TLV, no quarto trimestre, no Brasil.”

Soo Jong Kim, CEO da Innospace, em comunicado à imprensa.

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