O mercado de drones profissionais no Brasil aumentou significativamente nos últimos anos e a tendência é que continue crescendo. Em decorrência disso, será necessário um sistema de gerenciamento de voo que não apenas dê conta dos drones, mas também da interação deles com a aviação tripulada, incluindo os eVTOLs que devem voar nos centros urbanos em breve.

O caminho natural para organizar o espaço aéreo é a implantação do conceito UTM (Unmanned Aircraft System Traffic Management). No Brasil, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) deu o primeiro passo com a portaria nº 439/DNOR8 que estabelece um Conceito de Operações UTM no país.

Entretanto, o UTM já está sendo implantado em outros lugares, especialmente nos Estados Unidos, onde atua a Thales, líder global em soluções tecnológicas, serviços e produtos nas áreas de defesa, aeronáutica, aeroespacial e transporte. A empresa tem firmado parcerias e conversado com autoridades aeronáuticas para trazer o próprio sistema UTM para o Brasil.

Para explicar esse movimento, a MundoGEO entrevistou o diretor de soluções em ATC e aviação digital da Thales para as Américas, Frank Matus. Com mais de 20 anos de experiência nesse mercado, Marcus lidera o esforço de transformação digital de gerenciamento de tráfego aéreo da Thales na América do Norte, incluindo a adoção do UTM. A empresa participará da DroneShow 2023 como expositora.

Recentemente o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) do Brasil publicou um Conceito de Operações UTM. Quão importante são iniciativas desse tipo, principalmente em termos de regras e regulações?

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), entre 2020 e 2021, a quantidade de aeronaves no Brasil cresceu 11,3%, com 90.030 novos equipamentos registrados no país. O Brasil é o principal mercado da América Latina, com um faturamento anual de aproximadamente US$ 373 milhões. 

O uso de drones comerciais está aumentando em todos os lugares, sendo alimentado pelos baixos custos de entrada no mercado, combinados com uma ampla gama de novas oportunidades. Existem os benefícios sociais, tais como drones para alívio de desastres, busca e resgate e logística médica. E o socioeconômico, como operações de entrega em larga escala com pegadas de carbono drasticamente reduzidas, agricultura, vigilância, etc. 

Cada vez mais, os drones se tornarão autônomos, mas se integrarão cada vez mais à aviação tripulada, e por isso há uma clara necessidade de que as empresas, reguladores e consumidores continuem estabelecendo regras e regulamentos, já que esta também é uma área que ainda está em contínua evolução em termos de inovação e novas tecnologias. 

A profissionalização do setor de drones no Brasil é crescente e se espalha por diversas atividades. Como esse setor pode ficar ainda mais profissional com a implantação de um sistema UTM?

Um sistema de gerenciamento de tráfego não tripulado é a base de um caminho bem organizado para o uso em larga escala de drones. Com ele, oferecemos serviços que gerenciam o acesso ao espaço aéreo, fornecem autorizações de voo automatizadas para os usuários de aeronaves não tripuladas e monitoram a presença de aeronaves não tripuladas no espaço aéreo de baixa altitude, para garantir que não haja conflitos com outras aeronaves. Outra vantagem é a capacidade de gerenciar o tráfego, estabelecendo rotas de voo para os drones.

Como a Thales tem buscado parceiros, tanto governamentais e privados, para apresentar o sistema UTM que tem à disposição? Em que estágio estão essas parcerias?

Como uma empresa global, a Thales está ativa em todo o mundo, o que significa que a abordagem do UTM difere de mercado para mercado. Em algumas localidades geográficas, a Thales está engajada com ANSPs (Provedores de Serviços de Navegação Aérea), e em outras estamos engajados através de parcerias com fornecedores de serviços de drone.

Nos Estados Unidos, como exemplo, a Thales está fazendo parceria com os governos estaduais americanos para implantar infraestrutura de apoio à integração UAS. Hoje, a equipe tem diferentes níveis de maturidade de parcerias, sendo que a mais forte de todas elas é com o estado do Dakota do Norte. À medida que o mercado amadurece, a empresa espera ver múltiplos arranjos emergindo para ajudar a enfrentar esse emocionante desafio. 

E de que maneira a experiência em sistema UTM em outros países pode ser uma vantagem competitiva para a Thales no Brasil?

A Thales está ativamente envolvida nos desafios operacionais e técnicos da integração em rede dos sistemas de aeronaves não tripuladas (UAS) no sistema global do espaço aéreo. A Thales está moldando o futuro da indústria UAS liderando projetos com autoridades locais, regionais e nacionais como os estados de Nova York e Dakota do Norte, a Força Aérea dos Estados Unidos, FAA (EUA), CAAS (Cingapura) e DSNA (França) para enfrentar os desafios únicos apresentados pelos novos usuários do espaço aéreo.

Uma solução UTM significa muita tecnologia. Como a Thales investe nesse segmento de pesquisa e desenvolvimento para oferecer melhores soluções e adequadas à realidade?

A complexidade resultante desse ecossistema da aviação apresenta novos desafios significativos para a segurança e a proteção. Isto levará a um registro e identificação mais rigorosos para a UAS, que serão exigidos pelas autoridades civis. Os marcos regulatórios influenciarão a forma como os operadores planejam missões, recebem aprovações de voo e identificam e rastreiam drones com segurança. Também vemos aplicações nativas da nuvem e soluções centradas em dados tendo um grande impacto nas operações de aviação, e estamos investindo de acordo.

Por exemplo: para o projeto Dakota do Norte, Thales está integrando a infraestrutura nova e existente em um software de gerenciamento de tráfego baseado em nuvem como uma plataforma de serviço (SaaS) que dá suporte aos usuários na missão Vantis e no centro de operações de rede localizado nas instalações de Grand Sky, perto de Grand Forks, no estado da Dakota do Norte.

A plataforma Thales TopSky UAS Traffic Management (UTM) é uma plataforma em nuvem de primeira linha que mistura tecnologias de controle de tráfego aéreo comprovadas em campo com dados nacionais, regionais e locais para facilitar o conhecimento situacional em tempo real. Suas robustas capacidades também suportam a saúde proativa e o monitoramento do status para proporcionar segurança, resiliência, disponibilidade, acessibilidade e flexibilidade necessárias para as aplicações de aviação avançadas de um futuro próximo. 

A Thales é uma potência de pesquisa e desenvolvimento, investindo até 20% de nossa receita global em P&D. Já ganhamos o Top 100 Global Innovators Award oito vezes, um dos principais prêmios impulsionados pela inovação no mundo. Possuímos propriedade intelectual em 20.500 patentes. Como integrador de sistemas, também temos um amplo portfólio de produtos e um ecossistema de parceiros que inclui ATM, bem como segurança cibernética e gerenciamento de identidade e acesso. A Thales participa de todas as principais iniciativas globais de P&D de ATM e integra totalmente todas essas evoluções em seu roteiro de produtos.

O Brasil tem despontado como um dos principais atores no desenvolvimento de eVTOLs. Que tipo de solução a Thales tem no portfólio para também abarcar essa nova tecnologia que vai dividir o espaço aéreo com drones e outras aeronaves?

A Thales no Brasil está estreitamente envolvida com uma das principais iniciativas de eVTOLs no país. Anunciamos em março uma parceria com a Eve, a empresa da Embraer, para apoiar o desenvolvimento de seu eVTOL em uma série de estudos conjuntos sobre a viabilidade técnica, econômica e adaptável de uma aeronave 100% alimentada por tecnologia sustentável. A Thales também contribuirá com sua experiência no desenvolvimento de sistemas aviônicos, elétricos, de controle de voo, de navegação, de comunicação e de conectividade para o protótipo do eVTOL.

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