Geotecnologias como ferramentas de sistematização do conhecimento

Os recursos naturais provêm a humanidade, em grande parte, das suas demandas básicas de sobrevivência, fornecendo material e atendendo às necessidades estéticas e espirituais, essenciais para o bem estar humano. Mas o Planeta Terra é finito em recursos e, com a expansão da população humana, aumenta a pressão sobre o meio ambiente, tornando necessária e urgente a sua gestão sustentável. A complexidade dos processos sociais, econômicos, ambientais e dos mecanismos de tomada de decisões demanda novos meios de gestão.

Quando abordamos gestão envolvendo o espaço territorial, alguns pontos de vista precisam ser considerados sobre os principais conceitos envolvidos. Temos o termo “Território” como um conceito biofísico, compreendendo o espaço geográfico, os recursos naturais e ecossistemas e as condições, atividades e relações humanas, e que sempre está associado a uma entidade sociopolítica. Portanto, diz respeito à base geográfica sobre a qual um grupo social, institucional ou politicamente constituído exerce controle e usufrui dos recursos naturais. O território pode ser identificado com o espaço do Estado-Nação e, dessa forma, associa-se à noção de soberania, poder e controle, além de conter um sentido de enraizamento e de identidades sociais.

O ordenamento territorial é a tentativa de colocar as atividades humanas numa ordem, de acordo com aptidões do meio e direcionamentos dados por diretrizes e planos institucionais e políticos. O ordenamento territorial diz respeito a uma visão do espaço, focando conjuntos espaciais (biomas, macrorregiões, redes de cidades, etc.) e espaços de interesse estratégico ou usos especiais (zona de fronteira, unidades de conservação, reservas indígenas, instalações militares, etc.). Nesse sentido, o zoneamento é o resultado do uso de técnicas de planejamento para o ordenamento territorial. O zoneamento ecológico-econômico, por exemplo, é um instrumento técnico de planejamento que gera informações integradas de um determinado território, classificando-o segundo suas potencialidades e vulnerabilidades naturais e socioeconômicas.

Com o reconhecimento das limitações do planejamento meramente técnico, enquanto instrumento de ordenamento do território, mais recentemente foi adotado o conceito de gestão territorial. Nela busca-se instrumentar e apoiar a revisão e a formulação de políticas públicas e privadas, por meio de levantamentos de situações e cenários, em diferentes escalas, para permitir a visualização e análise de dinâmicas e potenciais, além de desenvolver ferramentas que tornem o conhecimento do território mais acessível aos gestores, possibilitando visões estratégicas. Portanto, é necessária a capacidade de produzir dados, geoestatísticas, mapeamentos, estudos e sistemas informatizados para a gestão em base territorial, e tem entre suas finalidades o monitoramento de processos de uso e ocupação das terras e, assim, o atendimento à grande demanda dos setores público e privado por informações territoriais, com vistas a orientar políticas de planejamento e investimentos. No entanto, a gestão territorial é conceitualmente mais ampla e inclui aspectos sociais e econômicos, relações de poder e componentes políticos da tomada de decisão, na busca do direcionamento, no tempo e no espaço, das múltiplas finalidades, decisões e ações em base territorial, de forma coerente.

A complexidade dos processos socioeconômicos e dos mecanismos de tomada de decisões demanda ferramentas para a gestão em base territorial e a capacitação da administração pública e das empresas.

Sistemas de informação geográfica e sensoriamento remoto são fundamentais para alcançar uma transição bem sucedida das tradicionais práticas de gestão ambiental e de recursos para o desenvolvimento sustentável, por causa de sua qualidade integrativa (ligação de dados sociais, econômicos e ambientais) e sua qualidade com base na localização (abordando relacionamentos entre os lugares ao nível local, nacional, regional e global). O uso de geotecnologias, convertidas em ferramentas de sistematização do conhecimento, auxilia e aumenta a eficiência da gestão territorial.

Wilson Anderson HollerWilson Anderson Holler

Engenheiro cartógrafo, analista GIS, supervisor do Núcleo de Análises Técnicas da Embrapa Gestão Territorial

wilson.holler@embrapa.br

Claudio A. SpadottoClaudio A. Spadotto

Engenheiro Agrônomo, Ph.D.Gerente Geral da Embrapa Gestão Territorial

claudio.spadotto@embrapa.br