Um novo conceito, ainda em discussão

O termo “sustentável” foi difundido pelo Relatório Brundtlan, em 1987. Em sua origem, a definição de sustentabilidade tornada popular sugeria que um padrão sustentável deveria garantir “as necessidades do presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras”.

Normalmente as discussões sobre o tema são pautadas nas dimensões econômica, social e ambiental, mas existem outras. Há mais de 20 anos Wolfgang Sachs destacou cinco dimensões da sustentabilidade:

Social: processo de desenvolvimento em que o crescimento está a serviço da construção de uma sociedade com maior equidade na distribuição de renda e bens, de modo a reduzir diferenças entre ricos e pobres. Promoção de processos participativos.

Econômica: alocação mais eficiente dos recursos públicos e privados, avaliada em termos macrossociais e não apenas pelo critério de rentabilidade empresarial de caráter microeconômico. Abordagem integrada de planejamento e de gerenciamento.

Ambiental/ecológica: capacidade de suporte dos ecossistemas, pela redução do uso de recursos não renováveis, redução da emissão de resíduos, equilíbrio no consumo de recursos naturais entre países ricos e pobres, pesquisa de tecnologias menos poluidoras, de baixo custo e eficientes, tanto para o meio rural quanto para o urbano e, finalmente, é dada pelas normas adequadas que visem à proteção do ambiente. Desenvolvimento e adoção de sistemas de monitoramento.

Cultural: procura de raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, processos que busquem mudanças dentro da continuidade cultural e que traduzam o conceito normativo de ecodesenvolvimento em um conjunto de soluções específicas para o local, ecossistema, cultura e área.

Espacial: obtenção de uma configuração rural-urbana mais equilibrada e melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. Promoção de equidade entre diferentes regiões geográficas.

O assunto não é novo, mas a importância é cada vez maior e oportuna para a área de geoprocessamento. Nas dimensões de sustentabilidade apontadas, a que irei discutir é a “espacial”.

A dimensão da sustentabilidade espacial referese ao tratamento equilibrado da ocupação rural e urbana, equilíbrio de migrações, desconcentração das metrópoles, adoção de práticas agrícolas não agressivas à saúde e ao ambiente, manejo sustentado das florestas e industrialização descentralizada, envolvendo melhor distribuição territorial das atividades econômicas e assentamentos humanos, com ênfase nas seguintes questões:

• Concentração excessiva nas áreas metropolitanas.
• Destruição de ecossistemas frágeis, mas vitalmente importantes, por processos de urbanização descontrolados.
• Promoção de projetos de agricultura regenerativa e agroflorestamento, operados por pequenos produtores, proporcionando para isso o acesso a pacotes técnicos adequados, ao crédito e aos mercados.
• Ênfase no potencial para industrialização descentralizada, associada a tecnologias de nova geração (especialização flexível), com especial atenção às indústrias de transformação de biomassa e ao seu papel na criação de empregos rurais não agrícolas.
• Estabelecimento de uma rede de reservas naturais e de biosfera para proteger a biodiversidade.

Segundo Tim Benton, coordenador do Programa de Segurança Alimentar Global da Universidade de Leeds, no Reino Unido, “pode-se reduzir o rendimento agrícola em um país por achar que isso é mais sustentável, mas a demanda continuará a mesma, ou aumentará ainda mais. Assim, se você reduz o rendimento, alguém, em algum lugar, vai precisar aumentar o rendimento”. Isto mostra a importância da dimensão espacial em sustentabilidade, na promoção da equidade entre diferentes regiões geográficas.

Algumas áreas de plantações podem ser gerenciadas de forma insustentável, enquanto outras podem compensar de maneira altamente sustentável, mas o que é verdade para uma parcela de terra isolada nem sempre é verdade na escala regional, nacional, continental e global.

Na escala regional, podemos gerenciar não apenas a terra agriculturável, mas também as terras não agrícolas, fundamentais para esta atividade, porque mantêm os polinizadores, os inimigos naturais, os microclimas, a infraestrutura de transporte e assim por diante.

Cada área tem sua vocação e uma deve equilibrar a outra. A sustentabilidade espacial existe para colocar as distintas regiões geográficas – e suas vocações – na balança.

Wilson Anderson HollerWilson Anderson Holler

Engenheiro cartógrafo, analista GIS, supervisor do Núcleo de Análises Técnicas da Embrapa Gestão Territorial

wilson.holler@embrapa.br