O uso da Gestão Territorial para o Agronegócio brasileiro

O território rural é alterado por expansão, concentração, intensificação, diversificação e substituição de atividades que ocorrem, ao longo do tempo, em diferentes regiões do País. A infraestrutura, a urbanização e as ações regulatórias e normativas transformam os territórios rurais e afetam a competitividade e a sustentabilidade do agronegócio.

Diante da dinâmica da agricultura no espaço geográfico, a gestão territorial insere-se no planejamento, implantação e acompanhamento das políticas públicas e dos setores privados. O uso de geotecnologias, convertidas em ferramentas de sistematização de informações e conhecimento, auxilia e aumenta a eficiência da gestão territorial.

Atualmente um dos projetos da Embrapa Gestão Territorial é justamente prover informações sobre como o Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), anunciado pelo governo federal no final de agosto, irá contribuir para o agronegócio brasileiro.

O objetivo é identificar e analisar conjuntamente as principais regiões de produção de soja no país e os meios de transporte para escoamento dessa produção. A partir das malhas ferroviária e rodoviária federais atuais agregou-se o PNLI, juntamente com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O PNLI – Rodovias e Ferrovias, apelidado de “PAC das Concessões” prevê a concessão à iniciativa privada de rodovias (totalizando 7,5 mil quilômetros) e ferrovias federais (totalizando 10 mil quilômetros).

Mapa Gestão TerritorialInvestimento

O plano pretende restabelecer a capacidade de planejamento integrado do sistema de transportes, e prevê investimentos totais de 133 bilhões de reais ao longo dos próximos 25 anos, com objetivo de ampliar e modernizar parte da infraestrutura de transporte do país.

O trabalho da Embrapa aborda as microrregiões do Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE) como unidade de referência geográfica. Cada microrregião agrega aproximadamente 10 municípios, totalizando 558 microrregiões em todo Brasil. Com essa organização, a produção de soja em 2009, segundo dados do IBGE, ocorreu em 247 microrregiões brasileiras.

A partir da distribuição da produção de soja em 2009, foi calculado o coeficiente de Gini. Este coeficiente é comumente utilizado para medir o grau de concentração (distribuição) de renda em determinado grupo, mas pode ser usado para qualquer distribuição, como por exemplo, de produção. Numericamente, varia de 0 (zero) a 1 (um), onde 0 corresponde à completa igualdade na distribuição e 1 corresponde à completa desigualdade, no qual uma microrregião é responsável por toda a produção. O valor do coeficiente de Gini obtido, por estudo da Embrapa, foi de 0,816, mostrando que há uma grande desigualdade na distribuição da produção de soja no Brasil.

Concentração

A Embrapa organizou as 247 microrregiões em ordem crescente de produção e classificou-as em quatro quartéis (entidades geográficas), onde cada quartel representa 25% da produção total do Brasil. O primeiro quartel (Q1), com 201 microrregiões, o segundo (Q2) com 28 microrregiões, o terceiro (Q3) com 14 microrregiões e o quarto (Q4) com quatro microrregiões. Em outras palavras, apenas quatro microrregiões (Q4) são responsáveis por 25% de toda produção de soja brasileira. Todas as quatro microrregiões do Q4 estão concentradas no Centro-Oeste.

Ao somarmos essas quatro microrregiões com as 14 do terceiro quartel (Q3), temos 18 microrregiões responsáveis por 50% da produção de soja em 2009, no Brasil.

Escoamento

Verifica-se que os modais de transporte, contemplados no PNLI, poderão beneficiar o escoamento de grande parte da produção de soja do Centro-Oeste do país. Com melhorias das condições de trafegabilidade da BR-163, que corta a região Centro-Oeste de norte a sul, e a sua ligação com a BR-262 e a BR-267, além da ligação com as ferrovias Maracajú – Mafra, Lucas do Rio Verde – Uruaçu e Rio de Janeiro – Campos – Vitória, entre outras, contribuirá para o escoamento da produção através do estado de São Paulo, e portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), Barra do Furado (RJ) e Vitória (ES).

Demandas de organizações privadas também são consideradas no estudo, como a do movimento Pró-Logística que partiu da iniciativa dos produtores de soja e milho do Mato Grosso (Aprosoja) e demanda junto ao governo estadual projetos de infraestrutura de transporte e logística.

O movimento Pró-Logística, contempla principalmente a inversão no caminho do escoamento da produção de soja, em direção aos portos da região Norte do país. Com a intenção de diminuir as viagens de transporte, torná-las mais rápidas e seguras, traduzindo em menor custo de frete até os portos, descongestionando, desta forma, os portos do Sul e Sudeste.

Entender estas relações é estratégico e ajuda nosso país a se consolidar como potência no agronegócio mundial.

 

Wilson Anderson HollerWilson Anderson Holler

Engenheiro cartógrafo, analista GIS, supervisor do Núcleo de Análises Técnicas da Embrapa Gestão Territorial

wilson.holler@embrapa.br

 

Paulo R. R. Martinho
Paulo R. R. Martinho

Engenheiro Agrônomo, Msc.Analista GIS na Embrapa Gestão Territorial

paulo.martinho@embrapa.br

Claudio A. Spadotto
Claudio A. Spadotto

Engenheiro Agrônomo, Ph.D.Gerente Geral da Embrapa Gestão Territorial

claudio.spadotto@embrapa.br

Brenno B. QueirozBrenno B. Queiroz

Graduando em Administração com ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas | Estagiário na Embrapa Gestão Territorial.

brennoqueiroz@outlook.com