Aplicações de inteligência territorial para a gestão estratégica no agronegócio – Parte 2

Analisar o contexto agropecuário no território nacional de forma estratégica, considerando as possíveis limitações de uso da terra, compreendendo as tendências de evolução da agropecuária brasileira e com a possibilidade de confrontar com dados sociais, econômicos e ambientais, podem levar ao redirecionamento dos vetores de crescimento do agronegócio de forma mais sustentável.

Com isso em mente, a Embrapa Gestão Territorial vem desenvolvendo o Serviço de Análise Espacial para a Tomada de Decisão Estratégica (SAE), que foi pensado e planejado para ser um serviço de inteligência territorial para o agronegócio. O SAE permite analisar a dinâmica das relações entre áreas de produção, áreas com limitações legais de uso, modais de transporte, possíveis áreas de evolução, direcionamento de ações de transferência de tecnologia, inserção de barreiras fitossanitárias, adoção de estratégias para o combate a doenças e pragas que afetam o agronegócio. Também permite estabelecer cenários de evolução territorial da agropecuária, beneficiando produtores, associações, cooperativas, sindicatos, órgãos públicos e empresas privadas do setor. Para fundamentar os resultados gerados no SAE, estão sendo desenvolvidos protocolos de análise, embasados em critérios estatísticos e espaciais, para o tratamento e apresentação dos dados, considerando todo o território nacional.

Nessa edição apresentamos, como exemplo de aplicação do SAE, a determinação de vetores temporais, que demonstram a dinâmica territorial da produção agropecuária e que pode ser aplicada em diversas cadeias produtivas. Os vetores foram determinados a partir dos centros geométricos do conjunto de municípios mais representativos na produção nacional em cada ano.

A metodologia para a determinação de vetores mostra o sentido da dinâmica espaço-temporal da agropecuária e quando confrontada com dados norteadores do crescimento, como modais de transporte e áreas com restrições de uso, evidencia quais são as áreas mais apropriadas para a expansão do agronegócio. A figura mostra o vetor gerado pela dinâmica da produção de soja no Brasil de 1990 a 2011, considerando os municípios mais representativos no período. O vetor apresentado está fora de escala e serve apenas para ilustrar o trajeto da evolução da produção de soja no território nacional. Observa-se na figura que a área de influência direta das rodovias e ferrovias, previstas no Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), se implementado, poderá beneficiar o escoamento de grande parte da produção de soja do Centro-Oeste do País.
Os municípios responsáveis por 25% da produção em 2011 está representado em verde escuro (Q4).

Associados à figura, são gerados relatórios e gráficos que auxiliam a interpretação. Como exemplos, são apresentados os vetores em escala real e o gráfico do tipo radar.

Os gráficos mostram a dinâmica espaço-temporal da produção de soja, onde os vetores, representam os deslocamentos dos centros geométricos nos quadriênios. O gráfico do tipo radar mostra a tendência de deslocamento ao longo de todo o período (1990-2011).

Percebe-se que no quadriênio inicial (1990-1994) há ocorrência de maior deslocamento dos centros geométricos. Entre 1990 e 1994 o vetor apresenta sentido nordeste, no quadriênio seguinte a movimentação dos centros geométricos segue para noroeste, de 1998 a 2002 e de 2002 a 2006 para noroeste e por fim, de 2006 até 2011 segue, predominantemente, para leste.

A metodologia mostra como é possível analisar, em diversas escalas, a evolução da produção de determinado produto agropecuário. Também incorpora à análise aspectos de: infraestrutura de transportes; análises de contextos político-econômicos distintos; distribuição de renda, melhorias na infraestrutura dos municípios e auxilia a conservação dos recursos naturais, pois indica áreas com restrições de uso agropecuário como as Unidades de Conservação.

As análises podem ser realizadas por região (Norte, Sul, Leste e Oeste), por estados, por mesorregião, por microrregião, por municípios, por bairros rurais, por bacias hidrográficas ou qualquer outro agrupamento que possuam dados históricos.

Wilson Anderson Holler

Engenheiro Cartógrafo, Esp. (UFPR), Supervisor de equipe na Embrapa Gestão Territorial

wilson.holler@embrapa.br

Claudio Spadotto

Engenheiro Agrônomo, Ph.D. (University of Florida). Gerente Geral da Embrapa Gestão Territorial

claudio.spadotto@embrapa.br