Drones, Internet das Coisas, Realidade Virtual, Machine Learning, Big Data. Estes termos, que há pouco tempo poderiam parecer de filmes de ficção científica, já estão integrados ao dia-a-dia do campo, nas fazendas mais conectadas. Mas ainda tem um longo caminho a ser percorrido. Entenda…

Nos dias 21 e 22 de setembro aconteceu em Carambeí (PR) – no meio do caminho entre Ponta Grossa e Castro, região dos Campos Gerais – um evento disruptivo para o setor de Agronegócio, o Digital Agro.

Segundo organizadores e expositores, o DigitalAgro superou as expectativas, com uma visitação qualificada e focada em negócios. E o objetivo do evento foi cumprido, de levar a transformação digital para perto do produtor rural, ao invés deste ter que se deslocar até os grandes centros para conhecer as novidades.

Na entrada da feira, uma ‘atendente virtual’ em tamanho real nos dava as boas vindas de dentro de uma tela, enquanto nos estandes havia óculos de realidade aumentada, drones e muito entusiasmo em relação às novas tecnologias do campo…

Mas, também, muitas dúvidas, como pôde-se ver no semblante de quem estava assistindo as palestras. Afinal, não é fácil ouvir que você tem que ‘esquecer’ quase tudo o que conhecia e partir para a transformação digital no campo.

IoT, Aplicativos e Novos Modelos de Negócios

Na palestra sobre Internet das Coisas (ou IoT, a sigla mais popular e ‘marketeira’), o professor Ernane José Xavier Costa, da USP, comentou sobre como as pessoas podem – e devem – ser consideradas como ‘sensores’, afinal elas enxergam, ouvem e sentem tudo o que está acontecendo no campo.

Isso vale muito também para quem atua com drones, mas vamos falar sobre esse assunto no momento certo…

Na mesma palestra foi esmiuçado o conceito de Smart Farms, que se assemelha ao já conhecido Smart Cities, mas ainda há muitos desafios a serem superados, como a desmistificação da tecnologia, a falta de padronização, a dificuldade para sair da zona de conforto. As soluções: envolver a IoT na governança e iniciar com protótipos de ideias e soluções, para só depois que os conceitos sejam comprovados, aí sim implementar em escala maior.

O palestrante da Embrapa Informática Agropecuária, Daniel de Castro Victoria, por sua vez, falou sobre como a empresa está se aproximando do usuário, através de portais e apps para quem não tem, necessariamente, conhecimentos de GIS ou sensoriamento remoto.

A imagem a seguir, compartilhada por Daniel, de como artistas em 1900 imaginaram como seria a agricultura nos anos 2000, demonstrou como a tecnologia avançou. E, se imaginarmos, hoje, como será em 2100, certamente também erraremos:

Uma das empresas de maior êxito na Agricultura estava representada na programação por Santiago Larroux, da John Deere. Segundo ele, o Brasil é privilegiado por ter sol e chuva em abundância, além de – ainda – ter grandes áreas disponíveis para cultivo.

Porém, ainda temos imensos desafios a vencer, como a baixa cobertura de rede celular, falta de mão-de-obra especializada, pouca – ou nenhuma – interoperabilidade entre diferentes formatos de dados e aversão a novos modelos de negócios.

Larroux demonstrou a importância do Brasil para a John Deere pelo fato do país ter um centro de inovação em Indaiatuba (SP), o terceiro da empresa no mundo. Nesse centro estão sendo pesquisadas soluções para resolver – ou ao menos minimizar – os efeitos da cintilação ionosférica, um problema para quem trabalha com levantamentos geodésicos de alta precisão. E finalizou dizendo que ‘a Agricultura Digital vai chegar e já está batendo na nossa porta’.

Drones e Imagens de Satélites

Na sequência foi a fez de focar nos Drones, com a palestra de de Bruno Holtz Gemignani e André Luiz Augusto Thomaz, representando a 3DGEO, com o tema ‘monitoramento agrícola com RPAS – o uso de imagens multiespectrais no auxílio à tomada de decisão”. Segundo eles, muitos ainda não se deram conta que quem faz o serviço é a câmera, não o drone, que é somente a plataforma. E valorizaram muito o diferencial de trabalhar em conjunto com o produtor e/ou a equipe técnica da fazenda.

Segundo Bruno, é importante ser sincero com os produtores e mostrar que tem um longo caminho desde a tomada das imagens até entregar o dado processado. Também é fundamental trabalhar com equipamentos robustos, desde a plataforma (drone) até o sensor. Além disso, usando uma câmera multiespectral é possível enxergar além do visível. Com a capacidade de captar o infravermelho, é possível identificar a atividade fotossintética das plantas, algo essencial no agronegócio. Ou seja, mesmo lá do alto, é importante ter os pés no chão.

‘A transformação digital da agricultura’ foi o tema abordado por Roberson Sterza Marczak, da ADAMA, que fez questão de explicar que existe uma diferença imensa entre inovação – que gera valor – e invenção. E demonstrou que é importante, no agronegócio, ‘ouvir as plantas’ através de sensores, como por exemplo em atividades de irrigação baseada em crescimento. Para ele, os drones já viraram uma ‘commodity’ pois o que se quer saber é qual será o approach em relação aos dados gerados por eles.

E o Big Data é intensamente explorado pela empresa, como por exemplo o histórico de imagens NDVI de mais de 10 anos. Porém, na maioria das fazendas os dados e sistemas ainda são uma ‘colcha de retalhos’, que precisa ser organizada. O próximo passo é convergir todas estas tecnologias: big data, drones, IoT…

Palestrantes do painel de sensoriamento do Digital Agro

Inteligência Artificial

O ‘robô’ Watson, da IBM, foi desnudado por Luis Otavio Fonseca na palestra sobre conhecimento cognitivo na agricultura. Segundo ele, sistemas de inteligência artificial podem ser ‘treinados’ para diversas aplicações, como por exemplo identificar falhas de plantio em imagens de satélites. Ou, ainda, fazer com que o robô ‘dirija’ um trator com objetivo de economizar combustível.

Para Fonseca, três atores têm que estar alinhados para que a computação cognitiva tenha sucesso no agro: produtor, gerente da fazenda e cientista de dados.

Já Bruno Pezzi Figueiredo, da SGS / Unigeo, mostrou uma visão inovadora nos processos de precisão na agricultura e trouxe um termo atualizado, que é a ‘nutrição de precisão’. Enfatizou também a importância de se coletar e usar dados de qualidade, sejam eles geoespaciais ou não. E a interdisciplinaridade e os recursos humanos foram valorizados, já que na Unigeo há pelo menos 40 programadores, 50 profissionais de geo e um time de agrônomos.

O representante mais emblemático do setor de Geotecnologia no evento foi Abimael Cereda Junior, da Imagem, que desmistificou as ideias de que GIS é caro ou complexo, e complementou dizendo que agricultura sempre foi big data, desde os primórdios da humanidade, e que sempre se lidou com o estado-da-arte da tecnologia. Comentou, ainda que o termo ‘com o uso de Geoprocessamento’ não existe no agro, pois é inerente ao setor que se trabalhe com dados e análises geoespaciais. Finalizou comentando que o WebGIS permite focar nos problemas de negócio e que Geo é o que une todas essas questões, integrando tudo numa base única.

Agro é Digital!

Diferentemente de anos atrás, quando uma feira de Agronegócio contava basicamente com defensivos agrícolas e produtos químicos, nesta não havia nenhum estande com este foco.

Pelo contrário, os produtores já viram que a solução para maximizar ganhos e diminuir custos no campo está no digital.

Chegou a era do Digital Agro!