Cidade Inteligente é 80% de visão do líder e 20% de estratégia (adaptado do Princípio de Pareto). A falta de visão ou de clareza de qual é a “cidade que queremos” e, consequentemente, a baixa capacidade de envolver a equipe e a população em um projeto de cidade inteligente pelo líder resulta diretamente na baixa qualidade, baixa eficiência, baixa transparência e insustentabilidade das ações da gestão pública que é feita em nossas cidades, estados, e nação, o que nos leva nessa situação de caos que vivemos hoje em praticamente todos os municípios brasileiros.
Talvez seja por isso que a pergunta que eu mais escuto das pessoas é: qual o maior desafio para termos cidades inteligentes? E eu vejo que, enquanto sociedade temos dois grandes desafios: um fácil de resolver e outro um pouco mais desafiador.
O mais desafiador está em evoluirmos, enquanto sociedade, de uma mentalidade parasita para uma mentalidade de protocooperação. Você talvez tenha visto esses conceitos lá na oitava série, nas aulas de biologia, mas se você não se lembra do que eu estou falando, eu vou te relembrar:
Na biologia aprendemos que existem algumas relações ecológicas entre os indivíduos, dentre elas vou citar três: parasitismo, mutualismo e protocooperação. Eu vejo uma correlação direta entre as três relações ecológicas e a evolução da nossa sociedade para a de uma de cidade inteligente.
Basicamente, podemos dizer que no parasitismo, o parasita explora o hospedeiro. Aqui só o parasita se beneficia nesta relação. Um exemplo dessa relação aqui é da pulga e do cachorro. A pulga está em uma posição de só receber e não dar nada de bom em troca. Muito pelo contrário: aqui, a pulga além de consumir o sangue do cachorro pode transmitir doenças ao cão, que pode, em um caso extremo, levá-lo a morte.
Muitos cidadãos apresentam a postura de parasita para com o governo, para com a empresa, com a família, em seus relacionamentos. Podemos dizer que, em geral, se a pessoa apresenta o comportamento de parasita em uma área da vida, a tendência é que ela tenha o mesmo comportamento em todas as outras áreas, e não sou eu quem diz isso, mas T. Harv Eker (1992).
E isso se dá pela forma como a pessoa estrutura sua forma de pensar e ver a vida. Ela olha a vida pessoal, profissional e social com os mesmos olhos, com a lente do parasita. E não dá nem pra ficar chateado com a pessoa em questão, pois muitas vezes ela nem sabe que usa essa lente. Acha normal. Em geral, é uma pessoa mais egoísta, onde entende que os seus interesses pessoais são mais importantes do que o da coletividade.
Cidadãos que ficam sempre à espera de alguém pra resolver seus problemas pessoais (seja o governo, o gestor, o membro da família, o marido, o filho, ou qualquer outra pessoa). Vemos muito disso no trânsito. Uma pessoa que não espera o sinal verde de pedestre pra atravessar a rua, ou que dirige na faixa de acostamento “porque está atrasado” e para resolver seu problema pessoal coloca a vida de outras pessoas em risco. Ou alguns gestores públicos, que ao invés de usar seu cargo/mandato pra resolver os problemas do coletivo, colocam seus interesses pessoais acima de tudo e se envolvem nos escândalos da corrupção.
Esses são comportamentos semelhantes aos dos parasitas, e definitivamente, uma cidade inteligente não prospera em um ambiente assim. É preciso que nós, enquanto cidadãos saiamos desta posição de parasita e mudemos para outra mais sustentável.
O segundo passo mais comum nesta evolução orgânica e social se dá no mutualismo, que possui um caráter de troca obrigatório, onde as duas espécies precisam uma da outra para a sobrevivência. Ex: relação entre liquens e fungos. Os líquens sintetizam matéria orgânica que o fungo utiliza como alimento. O fungo retém umidade e nutrientes que a alga utiliza, além de conferir proteção à alga. Esse mutualismo entre a alga e o fungo permite que os líquens sobrevivam em ambientes em que nem a alga e nem o fungo conseguiriam sobreviver sozinhos. Socialmente falando, vemos aqui as relações comerciais entre Colaborador e Empresa, onde, em troca do salário, o colaborador gera os produtos ou serviços para a empresa. Sem o colaborador e empresa quebra. Sem a empresa, o colaborador não sobrevive.
Vemos aqui uma relação mutualista obrigatória na nossa sociedade, já que quem gera riquezas no país é o setor privado e não o público. E uma empresa em nível relacional mutualista é como uma grande mãe, que sustenta muitas outras famílias. Em um nível parasitário, falamos de escravidão.
Uma relação mutualista já é bem melhor do que a parasita. Mas em uma cidade inteligente vemos o predomínio das relações de protocooperação, em que os dois seres envolvidos cooperam um com o outro. Nessa situação, os dois se ajudam, mas não dependem disto para garantirem sua sobrevivência. Ambas as partes se beneficiam da relação.
Vemos aqui o princípio da parceria. Na natureza vemos a relação entre o pássaro palito e o jacaré, na sociedade, em uma simbiose de protocooperação, vemos uma maturidade e equilíbrio nas relações de parceria, onde todos sabem das suas responsabilidades dentro da sociedade como um todo. Todos (gestores, empresas, cidadão, universidades) têm clareza do objetivo comum e de suas responsabilidades no atingimento deste objetivo. São sociedades regidas por valores de Empatia, de contribuir para o equilíbrio do todo, de disciplina, de auto responsabilidade, Integridade, Transparência, Eficiência, qualidade. de visão sistêmica.
Nesta sociedade vemos nas pessoas, empresas, governantes a postura de resolver definitivamente o problema de forma eficiente, com qualidade e humanidade. A sensação que se tem é de que tudo flui naturalmente. Sabe-se que existe um custo material e imaterial para fazer tudo funcionar e cada um compromete-se com a parte justa que te compete neste sistema chamado sociedade.
Aí você me diz: Grazi, isso não existe! E eu digo: Existe sim.
Eu já tive a oportunidade de visitar 18 países na Europa, mais de 10 estados nos EUA e alguns países na América Latina. E o que eu vejo é que tem sociedades na etapa de parasita, algumas na etapa de mutualismo e algumas (coincidentemente ou não, justamente nos países “desenvolvidos”) na etapa da protocooperação.
Assim, neste simples exemplo da gestão do resíduo, vemos que o que muda praticamente de um pro outro é a mentalidade de cooperação e o valor social do coletivo acima dos valores individuais na maior parte dos cidadãos. E lembre-se: nossos governantes, assim como os deles são exemplares da nossa própria sociedade.
No dia em que a sociedade brasileira tiver 50% +1 de pessoas com a mentalidade de protocooperação, o Brasil se tornará um país desenvolvido, simplesmente porque teremos mais chances de termos gestores com a mentalidade dos Líderes das Cidades Inteligentes: a mentalidade da cooperação.
O outro desafio é fazer com que as pessoas entendam isso que eu apresentei aqui. Mas isso é relativamente fácil. Hoje com a internet e redes sociais existem inúmeros canais de compartilhamento de conteúdos sobre cidades inteligentes, projetos inovadores, fontes de financiamento e sobre a mentalidade da cooperação como base para cidade inteligente.
Mas tudo isso junto e gratuito, até agora, eu só vi no meu canal do Telegram. E espero que você se sinta instigado o suficiente para aprender um pouco mais de tudo isso comigo, na nossa formação em gestão pública para Cidades Inteligentes lá no Telegram! Lá compartilhamos todos os dias aulas sobre cidades inteligentes abordando tanto a questão da visão da liderança quando da estratégia a ser usada na política pública para fazer do seu município uma cidade inteligente. E para participar é simples, basta seguir os passos abaixo:
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*Grazi Carvalho, Doutora em Geografia, Pesquisadora em Cidades Inteligentes (UFMG, UFSC, CNPQ), Mentora e Master Coach de Cidades Inteligentes, CEO no Instituto Smart Citizen e Idealizadora do Desafio LICI
Imagem de capa: Pixabay