Em março de 2023, a Innospace se tornou a primeira empresa privada a lançar um foguete a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, um marco não apenas para a companhia sul-coreana, mas também para o setor espacial brasileiro. E se depender dos planos traçados para os próximos anos, o CLA será a principal base da empresa, com lançamentos frequentes de seu foguete de dois estágios HANBIT-Nano — o veículo lançado em março foi o HANBIT-TLV, de um estágio. A Innospace, inclusive, está confirmada no SpaceBR Show 2024, que ocorrerá em São Paulo, entre 21 e 23 de maio, no Expo Center Norte – Pavilhão Amarelo.

O próximo lançamento, aliás, já tem uma janela planejada: entre dezembro de 2024 e abril de 2025. E dessa vez não será de um veículo suborbital, como foi o caso deste ano, mas de um lançador orbital e com carga útil para ser colocada em órbita, no que será o pontapé para o aumento da cadência de lançamentos. A Innospace trabalha com a possibilidade de lançar 35 veículos por ano, sendo o CLA como principal base, mas somando-se a outros locais de lançamento em mais regiões do mundo. E isso dentro de um período de cinco anos.

“Para empresas de lançamento como a Innospace, precisamos lançar muito. Para que o negócio seja viável, precisamos realizar muitos lançamentos. Mas sabemos que não se aumenta a cadência de um para 30 lançamentos por ano do dia para a noite. Os negócios vão sendo feitos aos poucos, acompanhando a maturidade do veículo e com contratos maiores. Esse processo é relativamente lento, mas sempre crescendo, o que é o mais importante”, comenta o coordenador de negócios da Innospace do Brasil, Arthur Durigan Bahdur.

Ele, aliás, é peça-chave para os planos da companhia sul-coreana. Para operar em Alcântara, a Innospace precisou abrir uma filial no Brasil e agora inicia uma nova fase voltada especialmente para a prospecção de clientes e negociações com todos os atores envolvidos, como Agência Espacial Brasileira (AEB), Departamento de Ciência e Tecnologia Espacial (DCTA), Força Aérea Brasileira (FAB), o próprio CLA e outras empresas e instituições que fazem parte da cadeia produtiva e operacional de um lançamento.

Ao lado do CEO da empresa no Brasil, Davi Ju Hyun Gong, Bahdur tem feito esse trabalho de buscar clientes para usar os veículos da Innospace e levar satélites e outros experimentar para o espaço. A escolha do Brasil não foi por acaso e não tem relação apenas com Alcântara. A empresa sul-coreana vê no Brasil e em toda a região da América, inclusive Estados Unidos, como estratégica para os negócios.

“O Brasil é o principal mercado, mas como o plano da Innospace é expandir, precisamos ter mais clientes para manter uma cadência. Aqui no Brasil conseguimos atender toda a América Latina e a América do Norte. E a posição de Alcântara é muito boa, porque é muito próxima dos Estados Unidos, é fácil vir para cá. E ainda conseguimos atender a África”, explica Bahdur, que acrescenta que o setor acadêmico também deverá ter um papel importante na empreitada.

Rápido crescimento é fundamental para o negócio da Innospace

A Innospace foi fundada em setembro de 2017 pelo engenheiro aeroespacial Soo Jong Kim na cidade de Sejong, localizada a menos de três horas da capital Seul, na Coreia do Sul. É também lá onde fica o Centro Aeroespacial de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa. A outra instalação da companhia está em Cheongjiu, onde ocorrem os testes com os veículos e motores.

Desde então tem crescido de forma muito rápida. Em 2019 já estava qualificando o segundo estágio do HANBIT e no ano seguinte foi a vez do primeiro estágio. E neste ano, menos de seis anos após a fundação, conseguiu lançar o HANBIT-TLV a partir de um centro de lançamento profissional. Na comparação com outras empresas desse mercado, conseguiu avançar bastante em um período muito curto.

De acordo com Bahdur, um dos segredos desse crescimento é a cadeia produtiva espacial da Coreia do Sul e a interação da Innospace com os fornecedores. A escolha deles não é ao acaso. A Innospace trabalha com companhias que já são fornecedoras do Instituto de Pesquisa Aeroespacial da Coreia (KARI), uma espécie de congênere da AEB, ou seja, com experiência e disponibilidade. “No HANBIT-TLV, muitos componentes já haviam voado em um veículo orbital. E havendo mais demanda nossa, todos esses fornecedores ainda vão crescer”, pontua.

O que realmente faltava à Innospace era a prova da capacidade de lançamento, o que ocorreu com o lançamento no CLA. A partir daquele momento, muitas portas foram abertas, pois as empresas viram uma oportunidade de lançar satélites e outras cargas a um baixo custo, o que normalmente não ocorre no Brasil, já que é necessário entrar em missões de empresas que cobram valores mais altos e com lançamentos em outros países. Isso, claro, em um contexto no qual o Brasil também não conta com um veículo lançador próprio.

Para reduzir os custos das operações, a Innospace tem trabalhado em diversas frentes. O próprio veículo está sendo pensado com otimização de massa, para que seja mais leve e, consequentemente, mais barato para operar. Outra parte envolve diretamente a operação logística, com análises de rotas marítimas e rodoviárias mais eficientes para o transporte de equipamento e até mesmo na questão de suprimentos de materiais básicos, como alimentação e estadia de equipe.

Aprendizados do HANBIT-TLV e evolução para o HANBIT-Nano

O lançamento do foguete HANBIT-TLV em março, dentro da missão Astrolábio, foi fundamental para a Innospace planejar os próximos lançamentos, dessa vez comerciais. Tudo o que aconteceu desde a saída dos materiais da Coreia do Sul até o lançamento em si está sendo exaustivamente analisado pela equipe da empresa, sob três principais aspectos: operacionalidade dos sistemas, desempenho do veículo e questões meteorológicas.

Os motores do HANBIT-TLV usam tecnologia híbrida, a partir de oxigênio líquido e parafina. E um dos primeiros desafios da equipe da Innospace em Alcântara foi a manutenção do oxigênio na forma líquida, já que as temperaturas na região são altas e com um nível de radiação solar muito alto. Mesmo assim, foi encontrada uma estratégia para estabilizar o oxigênio. Da mesma maneira, havia uma dúvida sobre o comportamento da parafina sob essas condições, mas não houve degradação nenhuma. Além disso, o funcionamento dos dos diversos componentes eletrônicos está em análise para eventuais alterações que melhorem a performance do veículo.

Sob o ponto de vista do veículo em si, são diversos parâmetros para análise, como desempenho do motor, sistema de controle, tubeira, telemetria e a própria estrutura do foguete. De acordo com a empresa, tudo funcionou de forma nominal, conforme esperado. “Isso é importante porque cada tipo de motor trabalha de uma forma. E propulsores híbridos nunca tinham sido lançados, pelo menos não nesse porte, então havia a dúvida sobre o desempenho em voo. E os resultados foram praticamente os mesmos em voo na comparação com testes em solo. E isso dá muita segurança para seguir no desenvolvimento do veículo”, diz Bahdur.

E há também o aspecto meteorológico, que surpreendeu a Innospace. Mesmo com diversos dados meteorológicos em mãos, os níveis de rajada que o HANBIT-TLV enfrentou foram mais fortes do que o esperado. “Para a próxima operação, estaremos mais prontos para isso. Sabemos agora que o veículo estará mais suscetível a esses ventos”, comenta o representante da Innospace no Brasil.

Com todas essas informações, inclusive de telemetria, a Innospace está trabalhando no aperfeiçoamento do HANBIT-Nano, com melhorias na massa do veículo e no posicionamento de tanques e outros sistemas. Os dados do sistema propulsor, aliás, serão determinantes para a evolução do projeto. O modelo que foi testado, por exemplo, era o modelo de engenharia. Já o próximo será de fato o de qualificação, que passará por testes no primeiro semestre de 2024, contando com informações do que foi observado no lançamento de março.

Reveja abaixo o lançamento do HANBIT-TLV:

Interface Innospace-CLA

O lançamento do HANBIT-TLV foi o primeiro realizado pela Innospace e marcou também o retorno do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA) ao radar do setor espacial. E uma das dúvidas nessa nova fase era se o CLA teria capacidade para dar o suporte e fornecer toda a infraestrutura necessária para as operações privadas. Do ponto de vista da Innospace, sim, o CLA cumpriu muito bem o seu papel.

De acordo com o coordenador de negócios da Innospace do Brasil, Arthur Durigan Bahdur, todos os sistemas do CLA funcionaram adequadamente, incluindo as antenas e estações de telemetria, a partir das quais foi possível obter importantes dados. Além disso, toda a equipe de safety e security atuaram muito bem, inclusive com apoio emergencial quando foi necessário.

“Todo o time do CLA estava muito bem montado, com pessoas novas na base e outras experientes, incluindo de outras instituições, como IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço). Houve uma integração dos times e foi dado muita atenção a todos da Innospace”, diz Bahdur.

Não significa que não houve desafios. O principal deles foi a comunicação entre os sul-coreanos e os profissionais do CLA. Dos dois lados, muitos não falavam inglês, o idioma escolhido para fazer a interface entre as equipes. Para contornar essa questão, alguns técnicos do CLA e da Innospace fizeram o papel de intermediação para alinhar a comunicação.

“O CLA não lançava um veículo controlado há 20 anos e a Innospace nunca havia feito um lançamento em um centro desse porte. Foi muito importante para aprendermos juntos. Foi um grande aprendizado para a empresa e também para o CLA”, complementa o representante da Innospace.

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